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05 maio 2014

SEM DEIXAR RASTROS

DOOLITTLE, Sean. Sem Deixar Rastros. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. 268pp.

"Worth ainda estranhava a cara que a maioria das pessoas fazia ao ouvir aquela pergunta. Era fácil demais.
- Humm... acho que vou querer de papel - respondeu a mulher.
Ele não perdeu tempo e foi logo abrindo uma saco. Ao seu lado, Gwen dava uma olhada na lista para conferir os códigos dos legumes. A confusão de ruídos era enorme: leitores óticos bipavam, gente colocava e tirava compras dos carrinhos, aquela música instrumental chata não parava de tocar nas caixas de som presas ao teto." (p.9)

"Russel estava deitado, sem roupas, enrolado aos lençóis. No raio de luz da lanterna, Worth viu pedaços brancos no meio da polpa esfarrapada vermelha. Achou que fossem molares. Talvez ossos do maxilar. Ele não sabia ao certo." (p.27)

28 abril 2014

PALAVRAS EXPLOSIVAS

BARSAMIAN, David. Palavras Explosivas: entrevistas da revista The Progressive. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 303 pp. 

Edwidge Danticat (2003): "Muitas pessoas na minha vida não eram alfabetizadas no sentido formal, mas eram contadoras de histórias. Assim, eu tive a experiência de observá-las inventarem uma história de repente. Adorava aquilo. Elas prendiam o público e liam o rosto das pessoas para ver se o que estavam dizendo as cativava. (...) Portanto, toda aquela interação entre narradores e ouvintes teve fortíssima influência sobre mim." (p.24)

Kurt Vonnegut (2003): "O ato mais racista, mais asqueroso deste país, depois da escravidão humana, foi o bombardeio de Nagasaki. Hiroshima não, porque, talvez, tenha tido alguma relevância militar. Mas Nagasaki foi puramente o ato de explodir homens, mulheres e crianças da raça amarela. Ainda bem que não sou cientista, porque me sentiria culpado agora." (p.30)
"É difícil ler e escrever. Esperar que alguém leia um livro é como querer que uma pessoa chegue à sala de concertos, pegue um violino e suba ao palco. É uma aptidão surpreendente as pessoas poderem ler, e ler bem. Pouquíssimas leem bem. Por exemplo, tenho que ser muito cauteloso com o uso de ironia, dizer algo com o significado oposto." (p.32)

21 abril 2014

ALTA FIDELIDADE

HORNBY, Nick. Alta Fidelidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 260 pp.

"Em ordem cronológica, minhas separações mais memoráveis, as favoritas, as cinco que eu levaria para uma ilha deserta: 1) Alison Ashworth; 2) Penny Hardwick; 3) Jackie Allen; 4) Charlie Nicholson; 5) Sarah Kendrew."
"Essas foram as que doeram de verdade. Está vendo o seu nome nesta lista, Laura? Acho até que você conseguiria entrar sorrateiramente nas dez mais, mas não há lugar para você nas cinco; esses lugares estão reservados para aquele tipo de humilhação e sofrimento que você simplesmente não é capaz de provocar." (p.9)
"Minha loja chama-se Championship Vinyl. (...) Ficamos numa rua calma em Holloway, cuidadosamente localizada para atrair o mínimo de atenção de fregueses casuais; não há razão alguma para se vir aqui, a não ser que você more aqui (...)". (p.38)
"A loja tem cheiro de fumaça choca, umidade e capas plásticas, e é estreita e lúgubre e suja e apinhada, em parte porque é isso que eu queria - é assim que toda loja de discos devia ser, e só os fãs de Phil Collins dão bola para as que parecem limpas e saudáveis feito casa de subúrbio - e em parte porque não consigo nunca me decidir a limpá-la ou redecorá-la." (p.40)

14 abril 2014

FEED - CONEXÃO TOTAL

ANDERSON, M. T. Feed - Conexão Total. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. 256 pp. 

PARTE 1 - LUA 


"A gente foi à Lua para se divertir, mas a Lua acabou sendo um saco total. Fomos em uma sexta-feira, porque não tinha droga nenhuma para fazer em casa. Era o início das férias de primavera. Todo o mundo lá em casa estava chato. Link Arwalker disse assim: 'Tô num zero total', e Marty disse: 'Tô num zero também, unidade', mas o caso é que estávamos todos num zero enorme (...)." (p.13)
"Quando saímos da nave, nossos feeds estavam pirados de tanta propaganda. Saltavam de um hotel para o outro, e tinha um monte de palavras sobre cassinos e pistas de lama, e lojas de presentes e lugares onde a gente podia alugar braços extras. Eu estava tentando falar com Link, mas não conseguia, porque era um bombardeio tão grande de propaganda que eu ficava piscando e fazendo o maior esforço para avançar com meu transportador. Mal consigo me lembrar de tudo do feed." (p.17)

07 abril 2014

PORQUE LULU BERGANTIM NÃO ATRAVESSOU O RUBICON

CARVALHO, José Cândido de. Porque Lulu Bergantim não Atravessou o Rubincon. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. 289 pp.

COMO SUBIR NA VIDA PELA ESCADA DO REVÓLVER

Quando Ornebaldo Pestana soube que dona Dorodela Pestana não era firme em assuntos de fidelidade, só teve uma ideia:
- Mato o desabonador de minha honra. Na hora! Com dez tiros na boca!
E ao constatar, por provas e mais provas, que Dorodela praticava coisas de travesseiro com o dr. Ribamar Leivas, comprou um revólver deste tamanho! E já entrou em casa em feitio de notícia policial. Mas chegou para saber pela esposa da grande novidade. Dorodela esfregando as mãos, contou ao marido a proposta do dr. Leivas:
- Pediu segredo. Mas vai te dar um cargo de diretor da Companhia de Anilinas de São Pedro. Coisa de importância, com secretária bonita e telefone às ordens. Vai ser sortudo assim na China!
De noite, de barriga para cima e falando para o teto, na paz da cama, Ornebaldo disse de um ouvido para o outro:
- Não tem nada como um bom pau-de-fogo para fazer o sujeito subir na vida. Não tem!
E dormiu feliz. De cabeça limpa.
(p.32)

10 março 2014

MÚSICA POPULAR: O ENSAIO É NO JORNAL

TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: o Ensaio é no Jornal. Rio de Janeiro: MIS Editorial, s/d.

"Os trinta e três pequenos ensaios e apreciações críticas que compõem o presente volume são escritos de um tempo difícil. Publicados todos (...) entre janeiro de 1974 e agosto de 1989, foram aparecendo, primeiro no Caderno B, do Jornal do Brasil, e depois no semanário Pasquim (...)." (p.9)

"(...) os componentes da classe média brasileira passam a admitir por extensão que o seu gosto é - ou deveria ser - o gosto de todos e, ato contínuo, transformam o particular no universal. Uma vez, porém, que os produtos culturais ligados às suas expectativas e gostos são decididos e manipulados por grandes conglomerados internacionais com matrizes nos países mais desenvolvidos, o que se verifica é que o universo de classe média brasileira acaba sendo o regional das classes médias de países mais poderosos." [1977] (p.19)

10 fevereiro 2014

NADA É SAGRADO, TUDO PODE SER DITO

VANEIGEM, Raoul. Nada é sagrado, tudo pode ser dito - Reflexões sobre a liberdade de expressão. Parábola Editorial. São Paulo, 2004. 100 pp.

"Originada do livre intercâmbio e da livre circulação de bens e de pessoas, a liberdade de expressão está hoje ameaçada pelo espírito de comércio que presidiu seu nascimento. O que ontem a abria, hoje a aprisiona, à medida que o círculo do lucro se
fecha sobre o mundo.
O espetáculo do mundo ao qual assistimos como espectadores passivos nos é dado a ver e a ouvir segundo uma aparente diversidade decenários, que servem ao interesse dos encenadores e de seus comanditários, mais que aos nossos." (p.18)

"Não podemos ignorar que, mesmo vertidas em desordem, elas [as informações] nos são entregues envoltas numa embalagem midiática. Há que desembrulhá-Ias, triá-Ias, assim como se desembalam e se triam os produtos de consumo que por vezes foram, freqüentemente são e rapidamente se tornarão lixo. Pois,feita a triagem, não há nada que, suscitando a atração, a repulsa, a indiferença, não seja suscetível de ser revirado, reconvertido, transmutado para servir ao bem individual e coletivo.
A liberdade de expressão sem limites não é um dado, mas um aprendizado, que o dever de obediência até hoje não se inclinou a favorecer. Não há nem bom nem mau uso da liberdade de expressão; há apenas um uso insuficiente." (p. 19)

04 janeiro 2014

UMA CONFRARIA DE TOLOS

TOOLE, John Kennedy. Uma Confraria de Tolos. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2012. 430 pp.

"O boné verde de caçador espremia o topo da cabeça em formato de um balão carnudo. Como setas de um carro que indicassem duas direções ao mesmo tempo, levantavam-se nos dois lados as abas verdes do boné, preenchido por orelhas enormes, cabelos crescidos e finas cerdas das próprias orelhas." (p.13)
"'Com a ruptura do sistema medieval, os deuses do Caos, da Loucura e do Mau Gosto ganharam ascendência'. Ignatius escrevia em um de seus blocos de rascunho Big Chief." (p.41)
"- Vim falar com você, garoto. Tira essa cara do travesseiro.
- Isso deve ser influência daquele ridículo representante da lei. Parece que ele a fez virar-se contra o próprio filho. Aliás, ele já foi embora, não foi?
- Foi, e eu pedi desculpas pelo jeito como você se comportou.
(...)
- Cuidado onde pisa, por favor - bramiu Ignatius. - Meu Deus, ninguém nunca foi assim tão total e literalmente invadido e sitiado. Afinal de contas, o que a impeliu a entrar aqui neste estado completamente maníaco? Poderia ter sido o fedor de moscatel barato que me agride as narinas?
- Já decidi: você vai sair pra arranjar emprego." (p.62)